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Centro de Estudos e Pesquisas Psicobiofisicas

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Disponibilidade e Assistencialidade

Por Anette Leal

O vocábulo disponível vem do latim medieval “disponibilis”, cujo significado é “de que se pode dispor” e surgiu no século XIX. Já a palavra assistência, que também tem sua origem no latim (“assistentia”), significa “ajuda” e surgiu no século XVI. Não é, porém, sinônimo de assistencialismo, que atualmente é termo mais associado a populismo ou a algum tipo de aliciamento. Por isso, prefere-se aqui usar o termo “assistencialidade” como derivado direto de assistência.

Elemento básico e constitutivo de toda programação existencial, a assistencialidade implica numa responsabilidade que a consciência assume com grandes repercussões dentro do seu próprio processo de evolução.

Não se assiste em vão, mas é vazia a existência de quem não se dispõe ao serviço. O egoísmo cega. Estar disponível para servir deve ser propósito de toda consciência que quer evoluir.

A evolução incita a assistência, daí porque é preciso estar presente e junto a quem busca e necessita de ajuda. A assistência produz ressonância, tanto para o assistente quanto para o assistido, reverberando e repercutindo com a qualidade a ela emprestada pelas consciências envolvidas no ato.

Daí, concluir-se inicialmente que não basta apenas estar disponível para o serviço, sendo esta porém, paradoxalmente, a condição primeira para a assistencialidade.

A verdadeira assistência exige da consciência o autodiscernimento evolutivo, vontade firme e intenção cosmoética, a fim de que seu serviço seja realizado no momento certo, no lugar adequado, na companhia certa e com o conteúdo apropriado.

A disponibilidade para prestar assistência requer:

– imperturbabilidade emocional nos atos assistenciais;

– o menos doente ajuda aos mais doentes;

– superação dos preconceitos na ampliação do senso universalista (assistir a quem precisa e não somente a quem eu gosto!);

– exemplarismo pessoal;

– princípio de fazer sempre o melhor possível;

– saber ouvir-saber discernir-saber intervir;

– respeitar o livre-arbítrio das consciências assistidas;

– identificação sutil da demanda do assistido;

– momento certo de falar e de calar: há que se cultivar postura adequada e olhar atento, além de usar voz e gestos com sabedoria a fim de se realizar uma verdadeira assistência;

– precisão no atendimento.

Nesse processo, a autopesquisa deve ser uma constante para a consciência que pretende assistir, permitindo-se investigar, por exemplo, os seus pensenes (pensamentos, emoções e energia) e as condições da própria manifestação consciencial.

 

Quando não se tem lucidez para prestar assistência, ocorre a assistência falha, que é o ato ou efeito desprovido de acerto praticado pela conscin assistente. Isso ocorre toda vez que não se atentou para a real necessidade ou carência prioritária da consciência assistida em seu momento evolutivo específico. Tem-se assim a antiassistencialidade. Ou seja, quem se dispôs  a ajudar, não deu conta do recado.

A falta de êxito pode ser atribuída a uma conduta omissiva, que é quando a consciência assistente é aplaudida e considerada maxigabaritada, mas, na verdade, está defasada em relação à capacidade intraconsciencial e posssibilidades; ou a uma conduta imatura, que caracteriza  a consciência assistente é afoita e, de modo irresponsável, assume atuar assistencialmente em contexto para o qual “bota banca” sem ter competência.

Assim, é preciso evitar:

– desrespeito pelo nível evolutivo alheio;

– superficialidade nas abordagens (menosprezo pela necessidade alheia);

– inexistência de critério = daí, ser necessário o predomínio das faculdades mentais para ajudar a escolher melhor o tipo de assistência e o momento de fazê-lo, por exemplo;

-indecisão para atuar no momento mais oportuno = dai o autodiscernimento para não perder oportunidades e entender que o oportuno não é o que eu escolho, mas o que a vida apresenta como tal;

– qualidade da intenção = na dúvida, abstenha-se;

– vocabulário inadequado;

– superproteção maternal = porque pode levar à indulgência e ao acumpliciamento;

– boa vontade assediadora = tolhe as iniciativas do assistido;

– falta de competência na aplicação de técnicas assistenciais = revela despreparo. Daí porque é importante o autoconhecimento, a disciplina, o planejamento, para gabaritar-se ao serviço.

– Você faz assistência a conscin/consciex?

– Qual o tipo de assistência  que você pratica: de consolação, de esclarecimento e/ou energética pessoal?

Devemos ter sempre em mente que assistência é uma atitude e nunca uma intromissão. É atitude de doação física, energética, emocional e/ou mental. No entanto, não impeça a atuação dos demais, na tolha as iniciativas de trilharem seus próprios caminhos.

Assistir não é substituir ou anular o outro, em nenhuma situação.  Estar disponível não é o mesmo que ser “salvador do mundo”.

São princípios norteadores do assistente disponível:

– sinergismo disponibilidade-receptividade: não impor assistência;

– sinergismo conteúdo-forma: qual o tipo mais adequado da assistência e como deve ser prestada;

– princípio universalista de “fazer o bem sem olhar a quem”;

– princípio cosmoético “aconteça o melhor para todos”;

– binômio firmeza-delicadeza: pressupõe sensibilidade para ser firme sem ser grosseiro ou rude;

– binômio comunicação clara-entendimento preciso;

– predomínio das faculdades mentais, notadamente do autodiscernimento quanto à interassistencialidade cosmoética.

Pode parecer complicado buscar a assistencialidade… Então, por que assistir? Principalmente porque a consciência assistente é o maior assistido. Por mais paradoxal que pareça, estamos ajudando a nós mesmos quando servimos aos outros.

Afinal, estamos todos regidos por leis universais como a lei da inseparabilidade grupocármica e a lei da megafraternidade evolutiva. Segundo a lei maior da maxifraternidade, há sempre uma oportunidade para servir. Há muito trabalho a ser feito dentro da nossa programação existencial porque não estamos neste mundo em férias!

Quem assume a responsabilidade assistencial, dedica-se a enxergar as carências evolutivas por detrás de solicitações superficiais, guiando-se pelo discernimento. Assim como, quem valoriza os efetivos resultados assistenciais, não privilegia a exaltação da própria imagem.

Características de uma conscin lúcida que se dispõe a prestar assistência:

– antidispersão: a convergência das atividades assistenciais desenvolvidas, sem desperdícios de tempo, esforço e energia;

-autoorganização: disposição para estar no momento certo, na hora exata da assistência, programa ou não programada;

– autoreciclagem: movimento de autossuperação de trafares a partir da prática da interassistencialidade;

– epicentrismo: capacidade de promover a iscagem interconscienal lúcida;

– equilíbrio: ausência de frustração diante da incapacidade do assistido;

– paciência: a serenidade para lidar com situação crítica;

– percuciência: a agudeza para adentrar no universo do assistido sem se contaminar;

– prudência: o respeito ao limite do assistido;

– receptividade: a aceitação, de bom grado, das tarefas assistenciais cosmoéticas;

– tino: a perspicácia para conciliar terapêutica e paraterapêutica.

  • Você já consegue compreender a disponibilidade assistencial autolúcida?
  • Ainda mantém algum tipo de barganha, mesmo sutil, nos empreendimentos assistenciais?
  • Está satisfeito com o seu desempenho pessoal?

De acordo com a Conscienciologia, a autodisponibilidade exemplarista à assistência cosmoética evidencia o reconhecimento da oportunidade evolutiva promovida pela vida intrafísica.

“Não espere ter tempo para servir”.  No entanto, o tempo deve ser conduzido com lucidez, empregado com bom senso, o que implica numa permanente reflexão sobre o uso do nosso tempo.

– Temos reservado algum tempo na semana para um trabalho voluntário, para os dedicarmos a uma causa importante, para ajudar alguém pelo simples exercício da solidariedade?

– Será que vimos utilizando nossas horas com parcimônia e na proporção devida para todas as atividades?

Quem reconhece a relevância da tarefa assistencial, não mede esforços para realizá-la eficazmente. Assistencialidade, assim como meditação, tem que ser um estado permanente da consciência em cada existência. Não se trata de uma obrigação a mais a ser cumprida, mas de uma característica própria da consciência que deve servir, ajudar e auxiliar de forma espontânea.  No entanto, até que eu consiga atingir esse estado, tenho que me dispor a fazer assistência, como etapas necessárias até que isso se torne em mim uma condição natural.